Desde o momento em que nascemos, começamos a buscar no mundo que nos cerca uma forma de nos constituirmos enquanto ser. Com as percepções dos sentidos, e influenciados pela cultura e pela família, formatamos o nosso ego, ao mesmo tempo em que a mente começa a identificar-se com o corpo. Nesse processo de desenvolvimento muitas vezes a essência divina é abandonada. Esquecemos de manifestar a natureza do Ser, tornando-nos prisioneiros do ego e da mente.
Com o tempo, a identificação exterior nos restringe ao que vemos e sentimos. Vamos perdendo aos poucos o discernimento da inteligência (buddhi) para lidar com apegos, aflições e condicionamentos mentais. Oprimidos e longe de nós mesmos, nos distanciamos ainda mais do nosso lar que é o nosso coração. Lugar que é morada do Ser, onde encontramos a felicidade, a paz, a equanimidade e todos os serem em si mesmos. Perdemos, dessa forma, a plenitude e a liberdade.
É só no momento em que a vida é percebida pela magnitude do coração que conseguimos estabelecer uma harmonia entre o ego, a mente e o Ser e só assim, podemos promover o despertar da consciência que é o nosso maior bem. È por esse processo de despertar a consciência que se descobre a essência do Eu, sua verdadeira identidade. O que nos possibilita uma convicção da verdade e uma sensação da existência de algo a mais, além do corpo e da mente e do certo e do errado. Dá-se lugar a um sentimento eterno e libertador.
Essa percepção facilita a fluidez para agir em conformidade com o Dharma, a vocação, e dessa forma encontrar a felicidade. Um sentimento diferente do que se experimenta com o que se imagina ser felicidade enquanto um contentamento superficial. A felicidade, diferentemente do prazer em que se desfruta sensações adquiridas por supérfluos, conquistas momentâneas voltadas às aquisições externas, ela habita no interior de cada um e é vivenciada quando se está presente em si mesmo, ao manifestar a essência divina. Seguir a voz que nasce no coração é encontrar o verdadeiro sentido para a vida, percebendo-se digno de alegrias, conquistas e realizações. “Aquele cujo coração não se atém às impressões exteriores descobre em si mesmo a felicidade. Em união com Brahman, através do Yoga, desfruta da perpétua plenitude ” ( Bhagavad Gita V:21 )
Muitas das escrituras do Yoga revelam a importância do coração para a consciência divina e manifestação do Ser. Destaco algumas delas:
– “Ser, presente em todos os seres, multiplica sua própria Unidade. A felicidade eterna acompanha aqueles que percebem o Ser em seus próprios corações. A mais ninguém ele se revela” (Katha Upanishad. II:2,12.);
– “Dentro do coração, em uma pequena cavidade, repousa o universo.Um fogo arde aí, irradiando em todas as direções” (Mahanarayana Upanishad. XI:9-10);
– “O ser Infinito esta presente nos corações de todos. O Ser Infinito é a suprema realidade…” (Isha Upanishad. 1);
– “Meditemos por no Ser radiante, imutável permeado secretamente o mundo de mudança, e percebido no coração em samadhi ” (Tejabindu Upanishad. 1);
– “Na região do coração há um lótus de oito pétalas: no centro desse lótus existe um círculo de dimensão microscópica onde se encontra a alma individual que é a luz…” (Dhyanabindu Upannishad. 93);
– “Luz de todas as luzes, brilha acima das trevas profundas. Ele é o conhecimento e objeto do conhecimento que reside em todos os corações.”(Bhagavad Gita XIII:17).
– “Ali está o coração da mente [manas], que nasce da meditação[dhyana]”
(Sutras de Patanjali IV:6 ).
Adorei o texto, muito bonito, mas eu tinha o sutra IV:6 de Patanjali como:
“tatra dhyānajam-anāśayam”
“Nas várias manifestações, a impressão gerada pela contemplação é livre de influencia”
tatra = (adv.) desse
dhyānajam = resultado do dhyana(contemplação) .
aśaya = que fica; impressão deixada.
anāśayam = livre de influência.
grande abraço