Poucas coisas são mais gratificantes do que um belo “insight”. Aqueles momentos em que as idéias, que antes estavam confusas, num repente se encaixam perfeitamente, como num passe de mágica, e nos dão a felicidade da perfeita compreensão de seu sentido. É algo tão delicioso que queremos compartilhar com todo mundo.

Mas é justamente aí que surge o problema. O “insight” é uma experiência absolutamente pessoal e dificilmente surge de um modo que possa ser transferido ou compartilhado com outra pessoa. Esse é o seu charme e a sua maldição – ele é o resultado de uma atitude de busca ativa. Não pode ser recebido passivamente de alguém que desfrutou dele anteriormente.

Mesmo assim, ficamos ansiosos por compartilhar.

A condição do portador do “insight” é a mesma de uma criança diante do processo do aprendizado – e não apenas aquele da escola formal, mas também, e principalmente, o aprendizado que a vida oferece aos que não têm vergonha de admitir que ainda não sabem. A criança diz – “não sei” e fica olhando para a gente com aqueles olhinhos que pedem para ser surpreendidos com um belo truque de mágica. Ela não quer adivinhar e dar uma resposta esperta – coisa de adulto – mas se diverte com não saber e ter a chance de uma nova descoberta. A vida é muito gratificante na infância, enquanto ainda não temos o desejo de parecer melhores que os outros e entrar na competição que transforma nossos antigos amigos em adversários que devemos temer. Para que eu ia querer ser melhor que os outros, e não ter mais alguém com quem dividir a minha curiosidade e talvez compartilhar o “insight”?

Só temos “insights” quando estamos humildes e reconhecemos que alguém mais pode nos oferecer a pecinha que falta para concluir nosso quebra-cabeças. Quando ainda somos capazes de extrair alegria por juntar idéias ou por ler uma poesia. Porque a poesia, quando é poesia de verdade, é a mais incrível fonte de “insights”.

Os hindus chamam os seu maiores sábios – aqueles que trouxeram a revelação dos Vedas, de “poetas”. De poesia é feito o próprio Universo, onde os deuses são apenas mantras – e por isso mesmo são tão poderosos…

Se você quer encontrar a felicidade digna de um grande yogui, o primeiro passo é olhar para sua própria ignorância como uma oportunidade de aprendizado. E olhar para o aprendizado como uma oportunidade de encontrar a alegria do “insight”. E olhar para o “insight” como um retorno à inocência da infância, como se você houvesse bebido do néctar da imortalidade.

Aquele que já sentiu o prazer de um único “insight” sempre estará atento para não perder o próximo. Mãos à obra, portanto. Pergunte alguma coisa para alguém, com um desejo verdadeiro de elucidar alguma dúvida. Ou, se preferir, abra um livro de poesias. Faça uma meditação ou cante um mantra – e fique atento ao que se passa dentro de seu coração.

E vamos deixar, mais uma vez, cair a ficha…

[Publicado originalmente pelo autor em carledug.blogspot.com, sob o título “Deixe cair a ficha…”, em 26 de março de 2008]