O conhecido jornal diário norteamericano The New York Times publicou no dia 5 de janeiro de 2012 uma matéria provocativa contra a prática de Yoga, e acendeu um debate tenso entre praticantes, de um lado e “antipatizantes”, de outro. Ilustrada com fotos jocosas de atores da peça de teatro “Godspell” imitando praticantes de yoga de forma caricata, essa matéria, no entanto não tem nada de engraçado, pois lança um anátema bastante pesado sobre o conceito moderno de Yoga. As repercussões já deram a volta ao mundo e continuam a se propagar com intensidade, e talvez seja bom você construir sua própria opinião a respeito, pois o assunto vai acabar caindo nas mãos de cada um de nós – as pessoas que têm interesse na doutrina ou nas práticas relacionadas ao Yoga.

No Brasil, a revista Carta Capital apresentou o assunto com a matéria “Reportagem contra ioga desequilibra seus seguidores“, que reproduz as opiniões pró e contra apresentadas pelos novaiorquinos em resposta à matéria do The New York Times. Não faz muito tempo a revista Veja publicou matéria intitulada “O Guru do Laxante“, em sua edição de 26 de novembro de 2008, em que apresentava as denúncias contra um professor de yoga de São Paulo que levou vários alunos ao hospital após uma sessão de “purificação” na qual fez uso inadequado de um chá laxante.

É fácil perceber que as vozes contrárias à prática do yoga encontram respaldo na imperícia ou na desonestidade de alguns profissionais instrutores da prática, que frequentemente colocam seus interesses e vaidades pessoais acima da responsabilidade social exigida para o correto exercício de suas atividades. Têm sido cada vez mais frequentes as denúncias sobre abusos de instrutores sobre seus alunos, que vão desde a exigência de práticas agressivas à saúde até o assédio sexual com “toques” desrespeitosos a título de “verificação de postura”, entre outras tantas denúncias. Até mesmo o cultuado (e recentemente falecido) instrutor indiano Pattabhi Jois já foi questionado, e com razão por seus toques de mão nas alunas – como mostra a foto ao lado, publicada num site genérico de crítica social.

Resta saber com que grau de maturidade os simpatizantes do Yoga vão rebater ou aceitar as críticas. A opinião pública é bastante sensível às mensagens da grande mídia, como esse jornal novaiorquino, mas também sabe reconhecer a atitude de quem defende aqueles que são injustamente atacados, quando essa atitude de defesa é honesta, sincera e bem intencionada.

O Yoga moderno, esse que tem seu foco nas posturas corporais e nos exercícios respiratórios, nasceu nas primeiras décadas do século XX como apenas uma ginástica fingidamente mística. Ainda assim, milhares de pesquisas clínicas ou acadêmicas, que podem ser facilmente levantadas em bibliotecas científicas de todo o mundo, dão testemunho a seu favor. Por essa razão um grande número de médicos recomenda a prática de yoga como terapia complementar (do tipo mente-corpo) para seus pacientes. Mas o Yoga verdadeiro, que envolve o compromisso com a verdade e com a autenticidade, não pode ser carregado no arrastão e precisa prevalecer nesse debate.

Vamos admitir que esse mercado do yoga tem sido progressivamente invadido por abusos e desonestidade, de fato, mas isso jamais deveria colocar o Yoga em si sob suspeita. Assim como não podemos reclamar da baixa qualidade de um produto do qual compramos a versão pirateada, também não podemos culpar o Yoga verdadeiro pelas atitudes desajuizadas de instrutores desqualificados. O que o Yoga precisa de nós é de uma atitude de humildade e respeito pelos praticantes – que jamais devem ser colocados em situação de risco por aqueles que deveriam estar dando a eles uma orientação segura sobre práticas comprovadamente salutares.