Agora ha pouco recebi mais um email supostamente bem intencionado informando, desta vez, que a digitação da senha do cartão bancário invertida acionaria a polícia, e que é um procedimento recomendável em caso de sequestro relâmpago. É claro que se trata de mais uma informação falsa e mal intencionada, que vai levar alguns crédulos a digitar a senha errada e bloquear o seu cartão bancário, além de colocar sua vida em sério risco, na hipótese de estar sendo vítima de um assalto. Mas a pessoa que repassou para mim essa mensagem é absolutamente confiável, e o fez por acreditar que essa era a coisa certa a fazer – compartilhar uma informação “privilegiada” que poderia ser muito útil em uma situação de emergência.
Por que razão acreditamos em tolices como essas? Por que somos tão bobos a ponto de aceitar mensagens que são tão obviamente absurdas, tomando-as como informações de utilidade pública que devem ser repassadas para todos os nossos contatos?

Acredito que este seja um tema adequado para psicólogos ou sociólogos, e não me atrevo a levantar hipóteses nessa área. Não sou analista. Quando muito poderia me candidatar a paciente.

Frequentemente essas informações de utilidade pública batem em mim e retornam com uma resposta. Ultimamente tenho respondido a muitas mensagens que querem me mostrar a verdadeira face da Índia, aquela que a novela da Globo não mostra. Justo para mim… Tenho de confessar que as mensagens são chocantes, não por seu conteúdo, mas por sua malignidade. Fico impressionado com o esforço que certas pessoas fazem para denegrir a imagem de um país que certamente não conhecem, mas que por alguma razão doentia odeiam profundamente.

Já descobri que grande parte das mensagens contra a Índia são produzidas por cristãos fervorosos, em geral participantes de algum movimento ou organização vinculado ao Cristianismo. Eles tentam mostrar ao mundo o quanto o Hinduísmo ou o Islamismo são destrutivos para a dignidade humana. Certamente acreditam que estão prestando um grande serviço à causa religiosa pela qual militam, mas o que fazem, de fato são atos de terrorismo, que deveriam ser observados com mais atenção pelas autoridades policiais.

Certamente não se trata apenas de jovens delinquentes amadores aprontando brincadeiras de mau gosto. Temos jornalistas profissionais produzindo desinformações que afastam o interesse dos brasileiros pela Índia – que é apresentada como se fosse o pior lugar para se conhecer em todo o mundo. A revista Veja, em agosto de 1999 publicou uma matéria sobre a Índia que é um primor de deturpações. Ela chega a afirmar que “cerca de 70% das mulheres grávidas sofrem de anemia, dando à luz crianças desnutridas“, um número 25 vezes superior ao que foi constatado pela ONU em seus relatórios.

Outros contumazes divulgadores de uma tragédia inexistente são as ONGs. Ah, as ONGs… Como gostam de exagerar em números, para comover possíveis doadores para a sua causa. O jornalista britânico Peter Foster publicou em seu blog um artigo mostrando sua preocupação com essas dirtorções, nos seguintes termos: “A dificuldade é que, como repórter diário, se uma ONG destaca um número e você toma essa ONG como fonte, isso inevitavelmente cria uma manchete – exatamente como pretendia a ONG – que busca publicidade para sua “causa” (e seus esforços de levantamento de fundos)”. Aqui a desinformação atende a interesses econômicos, disfarçada de nobre causa social.

Há também a desinformação plantada por países que não querem a integração entre os emergentes. Não é paranóia nem teoria da conspiração, mas sim uma parte do complexo jogo da diplomacia internacional, que acompanha a força dos interesses comerciais de cada país que entra nesse jogo. Pense bem, o que significaria para os países mais ricos do mundo uma integração entre Índia, China e Brasil? Quase a metade da população do mundo, com um imenso potencial para, por meio da cooperação mútua, deixar de ser o mero mercado consumidor desses países, para assumir o comando da Economia mundial.

Para trocar em miudos, há muitos interesses contrários a que saibamos das verdadeiras coisas boas que existem na Índia (e na China, é claro). E o que é mais curioso é que somos bobos o suficiente para acreditar nesses mal intencionados, colocando em prejuizo o nosso interesse por países que poderiam ser nossos melhores parceiros para uma grande reviravolta de poder no mundo.

De qualquer maneira, toda essa conversa foi apenas para pedir aos amigos uma simples gentileza: parem de me mandar essas baboseiras pelo email, porque eu já cansei de responder para todo mundo que é tudo mentira.

[Esta matéria é a reprodução de um texto publicado pelo autor em carledug.blogspot.com, em 26 de março de 2009]