O Hinduísmo é um conjunto de culturas religiosas distintas que se integraram sem perder suas características distintivas originais. Uma infinidade de seitas e uma multidão de deuses se saúdam mutuamente como iguais, amparados pelas poderosas asas da espiritualidade hindu. Dentro desse cenário multifacetado de práticas rituais, relações sociais, artes visuais, arquiteturas, música e tantas outras formas de expressão cultural, um viajante pode desfrutar de uma autêntica vivência mística do verdadeiro Dharma hindu, se abrir seus olhos para a herança cuidadosamente preservada pelos povos da Índia.

“Dharma” é a palavra com a qual o indiano denomina sua cultura tradicional. Carregada por um prestígio inquestionável em todas as culturas da Índia, foi utilizada também por aqueles que abandonaram o Hinduísmo em favor de alternativas locais ou importadas, que designaram “Dharma” também os novos credos que adotaram. Conhecer e praticar o Dharma é o mandamento fundamental de qualquer indiano que se preze.

Conta uma lenda hindu que Sati, a esposa adorada do deus Shiva, movida por um profundo desgosto, tirou a própria vida em razão do desprezo com que seu pai, Daksha, a tratava após seu casamento com aquele deus. Então Shiva, tomado pela fúria, iniciou uma grande confusão no ashram de seu sogro, e, tendo recolhido os restos mortais de Sati, subiu os Himalaias e iniciou uma terrível e destrutiva dança, que abalou os alicerces do mundo. Os outros deuses, preocupados, acorreram ao local, tentando interromper a dança de Shiva. Vishnu lançou em direção a Shiva seu poderoso disco (chakram) que, embora não tenha atingido o deus, cortou o corpo inerte de Sati em cinqüenta e um pedaços, que caíram, na forma de pedras sagradas, em diversas localidades do território indiano. Essas pedras são conhecidas como Shakti Pithas, e se diz que para conseguir a visão mística da grande mãe do mundo (Shakti), é preciso visitar e ter a visão de cada uma dessas dezenas de partes do corpo divino, convertidas em santuários de peregrinação.

O Dharma hindu é como o corpo de Sati. Partido em inúmeros pedaços, precisamos conhecer muitos deles para que possamos construir uma noção mais clara do conjunto. Não basta visitar um templo hindu e acreditar que já sabemos como é o Hinduísmo. É essencial conhecer suas diversas manifestações regionais para experimentar a riqueza que ele tem a nos oferecer.

Se você quer conhecer a verdadeira alma do povo indiano, vai precisar percorrer inúmeros caminhos culturais, com a paciência e a humildade de um peregrino, de coração aberto para desfrutar de novas descobertas. A Índia tem uma herança maravilhosa para nos oferecer, certamente, mas para recebê-la precisamos estar com os olhos bem abertos, e jamais imaginar que já vimos o suficiente.