Este artigo resume o roteiro de uma viagem que será realizada ao final deste ano. Caso você queira participar, entre em contato com o editor deste site e solicite mais informações.

Nossa viagem se inicia em Nova Delhi, que está localizada no coração do território sagrado dos Vedas. A região era conhecida como Kurukshetra, e foi cenário para a grande guerra épica descrita no Mahabharata. Após esse evento, os personagens se dirigem ao Himalaia, e é justamente para lá que vamos também.

Seguimos para Kathmandu, no Nepal. O Nepal é um país em que a antiga tradição védica se misturou ao Budismo e à cultura tântrica, resultando numa colorida combinação de profundo misticismo e magia festiva. É um território muito sagrado, não apenas pela presença majestosa das elevadas montanhas cobertas pelas neves eternas, mas também por ter sido o cenário de histórias extraordinárias de guerreiros e homens santos. Um dos mais homenageados sábios que recebe a devoção nepalesa é Gorakshanatha – o criador do Hatha Yoga – de quem várias tribos locais tiram o nome abreviado pelo qual são conhecidos na Índia – os “gurkhas”. Esses antigos sábios dedicaram sua vida à defesa do Dharma

“Dharma”, em língua sânscrita – a sagrada língua da revelação nos Vedas – é o nome que se dá ao conjunto das crenças, práticas, artes e referências literárias que constituem as normas mais importantes que a comunidade deve seguir. A forma mais antiga do Dharma que a história do subcontinente indiano reconhece foi estabelecida pela literatura védica. Posteriormente, membros de clãs guerreiros questionaram as normas estabelecidas pelas famílias sacerdotais, os brâmanes, e apresentaram formas alternativas para o Dharma – sendo o Budismo a mais conhecida delas. Nascida da iluminação espiritual de um príncipe guerreiro (da região do Nepal) chamado Siddharta Gautama, o Budismo apresentou uma reforma do Dharma que agradou muito a população do norte da Índia no quinto século antes de nossa Era, e acabou crescendo em prestígio a ponto de se tornar a religião de Estado do reino de Magadha (um antigo reino védico que ficava em território da Índia, ao sul de onde é hoje o Nepal). O mais celebrado de todos os reis que existiram na Índia – o rei Ashoka Maurya – adotou o Budismo e mudou a face e o futuro da Índia.

O novo Dharma budista afastou do norte muitas das antigas famílias de sacerdotes védicos, que passaram a ser desprezados por príncipes de casta guerreira. Isso é particularmente verdadeiro no Rajastão – nosso próximo destino em nossa viagem pelo Dharma hindu (em cujo trajeto vamos antes prestar nossas indispensáveis reverências à poesia em mármore que é o Taj Mahal, em Agra). Os nobres daquela região defenderam práticas místicas iniciáticas, entre as quais o yoga, que dispensavam o ritualismo védico. Para quem não sabe, vale dizer que o famoso “suryanamaskar”, uma série de posturas para a saudação ao Sol, executadas pelos praticantes de yoga, foi criado por um príncipe daquela região. Alguns de seus reis, conhecidos como “maharanas”, se tornaram de fato grandes líderes místicos e defenderam o território indiano com grande sacrifício pessoal e dedicação, quando surgiram as violentas incursões de grupos islâmicos, a partir do século VIII de nossa Era. Vamos conhecer Jaipur, uma cidade mística que recebia muito bem os artistas e os intelectuais – e que produziu muito da inteligência medieval para a civilização hindu.

Com os brâmanes desprestigiados pela popularização do Budismo, o Hinduísmo bramânico quase se extinguiu, salvando-se apenas graças à proteção recebida de reis e príncipes do Sul da Índia. Foi para lá que se dirigiram em grande número as famílias bramânicas que ainda defendiam as tradições védicas. E é para lá também que nosso roteiro se estende, a seguir. Com o apoio de reis Cholas e Pandyas, no extremo sul da península índica, esses brâmane criaram um núcleo de resistência e fortalecimento e difusão do antigo Dharma. Isso fez do atual Estado de Tamil Nadu o lugar onde se pode encontrar talvez a mais bem preservada forma do Dharma védico, mesclada às culturas regionais (muito mais antigas que os próprios Vedas). Por serem navegadores, esses povos do sul também levaram as tradições épicas do Hinduísmo para Java, Bali, Indonésia, Camboja e vários outros locais. Há quem diga ainda que os tamis receberam bem os brâmanes por identificarem nos Vedas uma cultura inspirada pela sabedoria dos seus próprios antepassados.

As artes tamis, como os bronzes cholas e a arquitetura pandya, são unanimemente consideradas pelos críticos de arte como expressões de imenso valor para a história da Humanidade. Os templos daquela região, com seus imensos portais (“gopuram”) e imagens esculpidas em imenso número, pintadas com cores fortes, não encontram similar em parte alguma do mundo. O desenho desses templos tentava reproduzir a geografia dos mitos – o mundo que só os deuses poderiam habitar.

Mas a região também é conhecida por sua grande receptividade ao novo e por sua tolerância para com as diferenças. Isso fez do sul um lugar de livres-pensadores e grandes mestres místicos indianos, como Shri Aurobindo Ghose, cujo ashram em Pondicherry é parada obrigatória em nossa viagem, e estrangeiros, como Helena P. Blavatsky, encontraram o ambiente perfeito para estabelecer centros de estudo e difusão de sabedoria. A sede mundial a Sociedade Teosófica, que é uma das paradas de nosso roteiro, foi estabelecida em Chennai, capital de Tamil Nadu, e é um lugares inspirador para ocidentais buscadores de experiências místicas na Índia.

Assim, das mais antigas formas do Dharma védico às suas mais recentes variações, na Índia moderna, nossa viagem será um trajeto de “insights” e descobertas que darão aos participantes uma visão privilegiada da fonte ancestral da riqueza cultural de todo o sul da Ásia.