Com um método inovador, a organização Samskrita Bharati realiza a maior ação de restauração do Sânscrito falado já vista na História da Índia

Desde 1995 a língua sânscrita falada recebeu um poderoso impulso e começou uma trajetória de crescimento jamais vista anteriormente na Índia. Esse fenômeno foi devido à criação naquele ano, em Nova Delhi, de uma ONG (organização não-governamental) chamada Samskrita Bharati dedicada à tarefa de difundir o uso do Sânscrito falado entre membros de todas as camadas sociais da Índia.

Sua criação foi viabilizada por duas ações anteriores que se combinaram para formar as bases da organização. Uma delas foi a criação do Movimento Fale Sânscrito (Speak Sanskrit Movement) surgido em 1981 por iniciativa da unidade de Sânscrito da Fundação para o Voluntariado Hindu (Hindu Seva Pratishthana). Esse movimento, no entanto, logo sentiu que havia grande dificuldade para a difusão do uso conversacional do Sânscrito em razão da falta de um método adequado.

Até então o Sânscrito era ensinado de duas maneiras apenas: pelo método tradicional, que consiste em memorizar os mais de quatro mil sutras da gramática de Panini, ao longo de sete anos de estudos exaustivos das escrituras; e o método ocidentalizado das cartilhas e gramáticas simplificadas, adotado pela rede pública de ensino como parte do currículo escolar obrigatório para todos os estudantes secundaristas. O método tradicional tende a ser elitista e desanimador, e é cultivado como uma exclusividade de famílias da casta sacerdotal. O segundo é desinteressante e não cria no estudante qualquer desejo de falar aquela língua.

Por outro lado, o professor de Sânscrito Chamu Krishna Shastry (foto), do Tirupati Sanskrit College, juntamente com um punhado de colegas entusiastas, desenvolvia, nessa época, um método de aprendizado do Sânscrito por “imersão” que se tornaria a solução mágica para o problema. Pautado pela necessidade de usar essa língua para conversar sobre coisas do dia-a-dia dos estudantes, o grupo deu início a um esforço de padronização de vocabulário com foco em atividades de grupo – brincadeiras, jogos, vida profissional, canções populares e convivência doméstica – e organizou as aulas sem a preocupação de ensinar gramática. Foi o “tiro na mosca”.

O método foi testado com sucesso em condições controladas e foi tão bem sucedido que várias universidades e centros de estudos de Sânscrito da Índia aderiram ao método e começaram a oferecer suas contribuições. Com o número crescente de adesões, sentiu-se a necessidade de constituir uma ONG dedicada a coordenar e difundir a utilização desse método. Foi assim que surgiu em Nova Delhi, em 1995, a Samskrita Bharati – cujo Secretário Geral é o próprio professor Shastry. Desde então a ONG promoveu dezenas de milhares de encontros de conversação em Sânscrito. O professor Shastry acompanhou pessoalmente mais de 25 mil desses encontros. Quase três milhões de pessoas já participaram desses cursos rápidos de Sânscrito, e cerca de cem mil adotaram o Sânscrito como língua diária em sua residência.

O principal produto oferecido pela organização, que hoje tem vários escritórios na Índia e nos Estados Unidos, são acampamentos nos quais só é permitido falar em Sânscrito. Esses acampamentos são promovidos viabilizados com voluntários formados pela própria ONG que promovem dinâmicas adequadas à assimilação do vocabulário pelos novatos. Cerca de três mil voluntários ajudam os 130 funcionários da ONG a cumprir sua missão. A promessa dos acampamentos é “falar o Sânscrito em apenas dez dias” (um Sânscrito elementar, mas correto).

Os projetos da ONG, no entanto, não se restringem aos acampamentos. Os apoiadores da difusão do Sânscrito têm sido convidados a participar de outros projetos como “Sarasvati Seva” (um projeto de tradução de obras contemporâneas de diversas línguas para o Sânscrito), “Balakendram” (atividades em Sânscrito apenas com crianças), “Samskrita Griham” (adoção do Sânscrito como língua diária por uma família) e “Samskrita Gramam” (implantação do Sânscrito como língua de comunicação de toda uma comunidade).

Talvez o mais promissor desses projetos seja o “Samskrita Gramam”, que tem mostrado resultados surpreendentes. Várias pequenas cidades manifestaram interesse no projeto e algumas já adotaram o Sânscrito como sua língua oficial. O grande atrativo para essas comunidades é o fato do Sânscrito ser ensinado indiscriminadamente para membros de todas as castas e condições sociais. Assim, eles passam a ter acesso a algo que só os brâmanes podiam aprender, antes – e o que é ainda melhor é o fato do curso ser gratuito.

Fora do território indiano, no entanto, são os acampamentos de imersão que fazem sucesso. Embora grande parte dos participantes sejam indianos e seus descendentes, que vivem fora da Índia, um grande número de estrangeiros tem acorrido a essas vivências, especialmente aqueles que tiveram contato com a Cultura Indiana – através do yoga, da medicina ayurvedica ou dos movimentos bhaktas do Hinduísmo.

Links sugeridos

Samskrita Bharati – Home
Este é o site oficial da ONG, e traz informações sobre todas as suas atividades.

Entrevista de Chamu K. Shastry à TV – vídeo, 8:03 min.
Aqui você pode ver e ouvir Shastry, e uma de suas voluntárias nos EUA, contar um pouco sobre o trabalho da ONG, falando em Inglês e às vezes em Sânscrito.